O empresário Matt Chandran, da Malásia, quer substituir o bisturi por
um scanner e um computador touchscreen. Ele acredita que sua “autópsia
digital” pode substituir a autópsia tradicional, acelerando
investigações, reduzido o estresse das famílias em luto e amenizando
sensibilidades religiosas.
Ele pretende lançar o primeiro serviço de autópsia digital em outubro
no Reino Unido e espera trabalhar em conjunto com autoridades locais.
Pelo menos 18 serviços como esse estão planejados.
Segundo o empresário, que vê no ramo um grande negócio, cerca de 70
milhões de pessoas morrem todos os anos e por volta de 10% dessas mortes
são casos que necessitam de autópsia. “Esse é um número grande, então
temos a visão de que essa é uma grande linha de serviços que está se
formando ao redor do mundo”, disse Chandran em entrevista.
Para ele, a percepção ruim que as pessoas têm de autópsias tem
prejudicado seu apelo comercial. "Infelizmente, porque o processo de
autópsia é visto como macabro, as pessoas tendem a ignorar isso", diz
Chandran.
História de 3 mil anos
Humanos têm cortado seus mortos há pelo menos 3 mil anos para entender
melhor a morte, mas a autópsia nunca foi muito popular fora dos
programas de TV sobre investigações criminais.
Na década de 1950, a autópsia estava no seu ápice. Patologistas
realizavam o procedimento em mais de 60% dos que morriam nos Estados
Unidos e na Europa, o que ajudou a descobrir mais detalhes sobre muitas
doenças.
Mas o número de autópsias têm caído: hoje, menos de 20% das mortes na
Grã-Bretanha são seguidas de uma autópsia. A maioria delas é ordenada
por médicos legistas quando a causa da morte não está clara. A queda tem
sido atribuída a uma rejeição cada vez maior por um procedimento
considerardo bruto e ultrapassado.
Chandran quer mudar tudo isso conectando o software de imagens em 3D de
sua empresa iGene com um aparelho de ressonância magnética. Um
especialista pode, então, explorar um cadáver virtual em 3D, removendo
camadas de tecido, pele e osso com um mouse ou com o auxílio do
touchscreen.
Médico forense manipula imagem de cadáver.(Foto: Reuters/Bazuki Muhammad)
De acordo com Chandran, as vantagens são consideráveis. O material
digital permanence intacto e pode ser revisto; especialistas podem
localizar e identificar com mais facilidade fraturas ou objetos
estranhos como balas e outros fragmentos. Dessa forma, a família pode
saber como seus entes queridos morreram sem que o corpo tenha de ser
cortado.
Apesar de não ser a primeira vez que a técnica é utilizada, o
empresário afirma que iGene é a primeira empresa a oferecer o serviço –
que vai desde o momento da morte até a entrega do relatório post-mortem –
comercialmente. A ideia é que, nos casos em que autoridades solicitarem
uma autópsia, a família possa optar por uma autópsia comum, paga pelo
estado, ou uma autópsia digital, que deve custar o equivalente a
R$1.900.
Nem todos acreditam que a autópsia digital pode substituir
completamente a autópsia tradicional. Alguns questionam se ela pode
localizar alguns tipos de doença. Mesmo um pioneiro como Guy Rutty,
patologista forense da Universidade de Leicester e o primeiro a usar
imagens de tomografia computadorizada como evidência em um julgamento
criminal, diz que ainda há limites para o que uma autópsia digital pode
fazer, particularmente a determinação de onde e quando o paciente
morreu.
“Há centros que proporcionam esses serviços, mas outros estão sendo
mais cautelosos e ainda estão em um estágio de pesquisa”, disse Rutty.
Mesmo diante de ressalvas, Chandran continua sonhando alto. “Assim como a
certidão de nascimento começa com o nascimento de um bebê, o final de
sua vida será marcado por um relatório no qual o corpo em 3D é
capturado”, ele diz. “Dessa maneira, poderemos arquivar todas as pessoas
nascidas nesse planeta.”
Especialistas demonstram funcionamento de autópsia digital. (Foto: Reuters/Bazuki Muhammad)
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