segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Foram avaliados descoloramento de cabelos tingidos e degradação provocada por tensoativos

Uma nova ferramenta ajudará a indústria a escolher melhor as substâncias tensoativas dos xampus, que limpam mais e degradam menos os fios. Cabelos descoloridos, e depois tingidos, perdem a cor com maior rapidez do que aqueles que apenas receberam tintas, conforme testes realizados em laboratório. Os dois resultados são de pesquisas de mestrado realizadas pelo Grupo de Pesquisa em Físico-Química Aplicada, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, no âmbito de projeto que desenvolve métodos de avaliação das propriedades físicas e químicas da fibra do cabelo, o que envolve análises estudos sobre cor, propriedades mecânicas perda proteica em tratamentos físicos, químicos ou por ação do meio ambiente.

Na primeira pesquisa, o químico Rafael Pires de Oliveira desenvolveu uma nova metodologia para avaliar os danos causados ao cabelo por substâncias (tensoativas) da fórmula de xampus e que são responsáveis pela limpeza dos fios. Com uso, elas também provocam a perda de proteínas e de melanina, ou seja, de partes da composição da estrutura dos fios, em um processo de degradação das fibras. “O método ajudará a indústria a escolher os produtos menos danosos”, explica o autor da dissertação de mestrado “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS”, orientado pela professora Inés Joekes.

O cabelo é uma fibra natural formada por quatro camadas principais: a cutícula (constituída por material proteico, é parte mais externa do fio, responsável pela proteção das células corticais), o córtex (que reúne macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio), a medula e o complexo da membrana celular. Distribuídos no córtex estão grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo. Ou seja, as substâncias utilizadas para limpeza e o tratamento de tingimento, alvo dos estudos, provocam danos nessas estruturas dos cabelos.

Na pesquisa, Oliveira analisou 16 substâncias tensoativas, uma delas presente na maioria dos xampus no mercado. Os xampus são um “coquetel” de produtos químicos, cada um com uma função específica – no caso, as substâncias avaliadas cuidam da limpeza dos fios. “Todos os tensoativos degradam o cabelo, mas alguns mais e outros menos”, explica o químico, por isso a importância da metodologia que facilitará o desenvolvimento de novos produtos pela indústria. Os efeitos foram analisados em cabelo castanho escuro.

Em laboratório, Oliveira colocou mechas de cabelo escuro em frascos contendo uma solução com diferentes tensoativos analisados na pesquisa, durante 96 horas, tempo bastante superior aos poucos minutos de quem utiliza xampus no banho. A cor desse líquido, no qual os cabelos ficaram imersos, muda conforme a perda de elementos do cabelo, no caso proteína e melanina. Na sequência, as amostras foram analisadas em um equipamento chamado “espectrofotômetro”, que revelou ao pesquisador a quantidade material do cabelo retirado pela substância durante a limpeza. Nesse exame, uma luz é aplicada sobre a amostra e o equipamento mede a quantidade absorvida e espalhada pela substância e a que a atravessa chegando ao detector.

Oliveira desenvolveu uma escala para a avaliação dos resultados, o que permite a comparação entre diferentes tipos de substâncias tensoativas: quanto mais escura a solução desprendida do cabelo, mais danos causados; quanto mais clara, menor a degradação provocada pelo produto avaliado em laboratório. Segundo o autor, trata-se de um método mais simplificado e que permite a análise e comparação de diferentes tensoativos. Hoje, muitas substâncias presentes em xampus são utilizadas sem que haja estudos científicos para a substituição por melhores ativos, explica o pesquisador. A metodologia abre novas possibilidades para a descoberta de novas substâncias tensoativas que podem ter melhores resultados e provocar danos menores.

Cabelos tingidos
O segundo estudo partiu de uma antiga reclamação de quem pinta o cabelo: os fios “desbotam” com o passar do tempo, algumas vezes mais rapidamente do que em outras situações. A química Scheila Daiana Fausto Alves analisou dois dos principais fatores que interagem nesse processo de degradação: o efeito dos tensoativos dos xampus e da radiação ultravioleta, proveniente do sol. E conseguiu decifrar o que acelera esse processo.

“Todos os tensoativos fazem com que haja perda de cor do cabelo tingido, uns mais do que outros, mas, além disso, perde cor mais rapidamente o fio descolorido e que recebeu a tintura depois, se comparado àquele que apenas recebeu a tinta”, avalia a autora da pesquisa, também orientada pela professora Inés Joekes, do IQ. A retirada da cor original do cabelo, com a aplicação de produtos químicos, é usada quando se pretende aplicar cor mais clara.

No estudo, mechas de cabelo foram tingidos e submetidos a 30 ciclos de lavagem, o equivalente a lavá-los, todos os dias, durante um mês. Em alguns dos casos, os fios foram descoloridos antes de serem pintados (condição para quando se busca clareá-los) e outros apenas tingidos com tintura permanente. Além disso, os fios foram expostos a doses iguais de radiação ultravioleta, por meio da utilização de lâmpadas especiais.

O líquido coletado nas lavagens foi submetido à análise em um espectrofotômetro para verificação da saída do pigmento da fibra. Dessa forma, a pesquisadora avaliou o impacto de sucessivas lavagens do cabelo também exposto a doses diárias de radiação solar, a exemplo do que ocorreria no dia a dia de uma pessoa comum.

A partir dos resultados obtidos em laboratório, a pesquisadora compreendeu o ciclo de degradação do cabelo tingido. Há duas dicas que podem ser úteis para quem pretende “esticar” o tempo de vida dos cabelos pintados: é recomendável lavá-los com xampus para bebês, porque eles são fabricados com substâncias que degradam menos os fios; e, de preferência, não se deve descolorir o cabelo para pintá-los, porque isso acelerará a perda da cor depois do tingimento.

Publicação
Dissertação: “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS”
Autor: Rafael Pires de Oliveira
Dissertação: “Efeito de tensoativos e radiação ultravioleta na solidez da cor de cabelos tingidos”
Autora: Scheila Daiana Fausto Alves
Orientadora: Inés Joekes
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Financiamento: Capes

Fonte: Jornal da Unicamp.

domingo, 29 de setembro de 2013

 


Divulgada a agenda do Brincando e Aprendendo 2013. Clique sobre a imagem para abri-la ou aqui!


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Peptídeos permitem que cânceres sejam detectados e removidos com mais precisão

Pesquisadores da Universidade de Stanford criaram, por bioengenharia, um peptídeo que permita o imageamento de meduloblastomas - um dos mais agressivos tumores cerebrais infantis - em ratos de laboratório. Como uma "lanterna molecular", a substância adere aos tumores e os distingue do tecido saudável, permitindo a detecção e remoção do tecido doente.

Como meduloblastomas são comumente tratados cirurgicamente e têm limites difíceis de identificar, a detecção precisa da abrangência do tumor é crucial para o prognóstico do paciente.

- Com tumores cerebrais, é fundamental remover o tumor por completo e deixar tanto tecido saudável intacto quanto possível - disse Jennifer Cochran, uma das autoras do estudo, divulgado nesta semana pela Universidade. - Se não forem removidos corretamente, podem voltar muito agressivos, e sua localização torna possíveis sequelas cognitivas.

A lanterna molecular carrega uma tintura infravermelha e reconhece biomarcadores em tumores humanos, aderindo ao tecido doente e permitindo sua detecção por ressonância magnética. O processo todo é muito rápido e, também por isso, oferece vantagens a outros métodos de detecção, já que o cérebro é plástico e se modifica entre o momento dos exames preliminares e a cirurgia.

Para criar a substância, os pesquisadores realizaram bioengenharia sobre cadeias de aminoácidos extraídas das sementes do pepino-bravo, ou pepino-de-São-Gregório, uma planta nativa da Europa e do norte da África. O resultado são peptídeos do tipo knottin, reconhecidos por serem altamente estáveis, suportando fervuras e químicos fortes.

Além de iluminar tumores, os knottins podem ser usados para levar drogas a locais específicos no corpo, o que os torna valiosos para outras áreas da medicina molecular, inclusive no tratamento de outros tipos de tumor.

Fonte: Jornal da Ciência.

sábado, 28 de setembro de 2013

Com uma programação variada de 17 a 24 de outubro, a instituição abre as portas e espera mobilizar a população, especialmente crianças e jovens, em torno do tema "Ciência, Saúde e Esporte"

Oficinas, exposições, palestras, demonstração de pesquisas, trilha ecológica e até pedalada científica dentro do campus do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Essas são algumas das atividades que o instituto desenvolverá, de 17 a 24 de outubro, como parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT/2013).

Em sintonia com os grandes eventos esportivos a serem realizados no Brasil (Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016), a Semana buscará mobilizar a população, especialmente crianças e jovens, em torno do tema "Ciência, Saúde e Esporte".

"A semana é um espaço nacional de divulgação de resultados de pesquisas, de socialização e transmissão de conhecimentos científicos e tecnológicos para os estudantes e a sociedade em geral", disse a coordenadora da SNCT/Inpa, Denise Gutierrez.

O Inpa realizará palestras em escolas públicas da capital (17 e 18 de outubro), o programa Circuito da Ciência (dia 19), a Trilha Ecológica na Reserva Florestal Adolpho Ducke (dia 20) e atividades nas dependências do Bosque da Ciência, entre os dias 21 e 23, como palestras, oficinas, minicursos, além de estande na SNCT, em Brasília (DF).

A instituição também levará ações para oito municípios do Amazonas: Iranduba, Manacapuru, Manaquiri, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Autazes, e São Gabriel da Cachoeira. Nesses locais, o Inpa desenvolve alguma atividade ou já fez trabalhos anteriores.

"Temos a possibilidade ainda de chegarmos a todos os municípios do Estado, através das palestras dos pesquisadores que serão transmitidas pelo Centro de Mídias da Seduc e com a possibilidade de interação com o pessoal que está nos municípios", disse o coordenador de extensão do Inpa, Carlos Bueno.

Ainda para engajar a comunidade em ações que englobem os aspectos científicos e de saúde envolvidos nas atividades esportivas, serão realizadas várias atividades extras. Entre elas estão a Pedalada Científica na área pavimentada do campus do Inpa, uma parceria com o movimento Pedala Manaus. O evento será no feriado do dia 24 de outubro, Aniversário de Manaus.

"Entre uma pedalada e outra, haverá estações de paradas onde o participante poderá conhecer um pouco sobre a botânica do nosso campus, que é um 'museu' a céu aberto", revelou Gutierrez.

Dias antes, acontecem outros eventos, como o Cine Ciência (de 21 a 23 de outubro), com filmes de temáticas ambientais no horário do almoço (13h-14h); e o Passeio Noturno (dia 22), no qual os acadêmicos de Biologia poderão fazer a identificação de invertebrados, no Bosque da Ciência.

O Instituto conta com o apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) para a realização de algumas das atividades propostas para a Semana.

Capacitação
Um diferencial deste ano é a capacitação de profissionais da rede estadual de saúde, através de uma parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (Susam), segundo a coordenadora Denise Gutierrez. Dia 23 de outubro, será realizado o Ciclo de Palestras Ciência e Saúde na Amazônia, das 8h às 17h, no Auditório da Ciência, campus I do Inpa.

Na programação do ciclo, constam as palestras estratégia de educação e saúde no controle de malária e dengue na Amazônia (MSc. Marly Satimi), Adubação Verde (Luiz Augusto), Cultivo e importância funcional dos cogumelos (Ceci Sales) e Alimentação para Crianças: mitos e verdades (Dionísia Nagahama).

Essas e outras palestras também serão levadas para o Centro Universitário do Norte (Uninorte), Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM), Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e várias escolas.

O Inpa também promoverá nos dias 21, 22 e 23 a atividade Laboratório de Portas Abertas, na qual a população poderá conhecer de perto os equipamentos, materiais e as pesquisas realizadas na instituição nas áreas de piscicultura, herbário e carpoteca - local onde se guardam frutos -, química analítica e ambiental, produtos naturais, química da madeira e bioprospecção - como as plantas são tratadas, quais seus princípios ativos são úteis para controle de doença.

Visita
O Inpa está programando a visita de 48 escolas públicas das zonas urbana e rural de Manaus (AM), que corresponde a cerca de 3 mil estudantes, para participarem da SNCT. Todas as atividades são abertas para a sociedade e gratuitas.

A coordenação priorizou inicialmente as escolas que ainda não conhecem o Inpa e aquelas que em algum momento já foram envolvidas em ações da instituição, como o Circuito da Ciência, programa que visa aproximar a ciência e a educação ambiental de estudantes de escolas públicas. Para essas escolas, o Inpa se responsabilizará pelos custos de transporte.

Segundo Denise Gutierrez, as escolas públicas e particulares que não foram contatadas pelo Inpa mas que têm interesse em participar da SNCT podem agendar as visitas até o dia 11 de outubro pelo telefone (92) 3643-3135 ou ainda entrar em contato com a coordenação, através do e-mail piraja@inpa.gov.br. Neste caso, os custos de transporte escolar ficam a cargo das escolas.

"O agendamento é importante para que o instituto possa recepcionar os visitantes da melhor maneira possível", esclareceu a coordenadora.

Fonte: Jornal da Ciência.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Descoberta permite fabricação mais rápida e eficiente de células de pluripotência induzida a partir de tecidos adultos

Pesquisadores do Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, descobriram uma maneira mais rápida e eficiente de produzir as chamadas células-tronco de pluripotência induzida (iPS, na sigla em inglês), capazes de se transformarem em qualquer tecido do corpo e chave para cumprir a promessa da medicina regenerativa de fabricar órgãos e outros tecidos para transplantes sob encomenda e medida. A técnica para produção em massa destas células não só poderá acelerar os estudos na área como, no futuro, fornecer o material necessário para alimentar estas fábricas de órgãos.

Quando em 2006 o cientista japonês Shinya Yamanaka encontrou um método para fazer com que células adultas do corpo regredissem ao estágio de células-tronco semelhante ao de embriões, as iPS, sua descoberta foi saudada como revolucionária. Além de livrar os pesquisadores do dilema ético de ter que lidar com fetos humanos nas suas experiências, o achado abriu caminho para tornar realidade o sonho da medicina regenerativa personalizada, já que estas células-tronco contêm o mesmo DNA do doador, acabando com os riscos de rejeição dos órgãos ou tecidos que venham a ser fabricados a partir delas.

Método original é lento e ineficiente
A descoberta rendeu a Yamanaka o Prêmio Nobel de Medicina do ano passado, mas seu método de reprogramação celular ainda é ineficiente e demorado: em geral, menos de 1% das células adultas tratadas se tornam iPS de fato, e mesmo assim só depois de algumas semanas ou até meses. As restantes permanecem presas em um "limbo", um estágio intermediário em que não têm mais as características dos tecidos diferenciados de onde foram retiradas, como a pele ou o sangue, mas também não têm o potencial de se transformarem em qualquer um deles como as células-tronco.

A razão por trás desta ineficiência tornou-se então um mistério para os cientistas, mas agora o grupo de pesquisadores do Instituto Weizmann parece ter encontrado a resposta. Eles revelaram que uma proteína, chamada Mbd3, seria a responsável por interromper a fase final da reprogramação celular. A função exata da Mbd3 é desconhecida, mas os cientistas sabem que ela está presente em todas as células do nosso corpo em cada estágio de seu desenvolvimento, com uma exceção: os primeiros três dias após a concepção, antes de as células do embrião começarem a se diferenciar. Assim, ao remover a proteína das células sendo tratadas para se transformarem em iPS, eles conseguiram que praticamente 100% delas completassem o processo, e em apenas sete dias.

- Os cientistas que pesquisam a reprogramação celular podem se beneficiar de um entendimento mais profundo de como as células-tronco embrionárias são produzidas na natureza. Afinal, a natureza ainda as produz da melhor forma e da maneira mais eficiente - diz Yaqub Hanna, pesquisador do Instituto Weizmann e principal autor de artigo sobre a descoberta, publicado esta semana na revista "Nature".

Forçar células de tecidos adultos a regredirem ao estágio similar ao das embrionárias não é uma tarefa fácil. Para isso, os cientistas têm que introduzir nelas quatro dos chamados fatores de transcrição, que regulam a forma como os genes funcionam. Por motivos desconhecidos, porém, estes fatores também estimulam a ação da Mbd3, e foi esse processo que os pesquisadores israelenses conseguiram interromper.

- Isto gera um conflito, é como tentar pisar no acelerador e no freio de um carro ao mesmo tempo - compara Hanna.

Fonte: Jornal da Ciência.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013




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Nesses canais, você pode conferir várias notícias relacionadas à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Uberlândia, Minas Gerais.

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Coordenador do Gpopai da Universidade de São Paulo defende a criação de uma política industrial para o setor de comunicação digital, segundo a Agência Brasil

O fortalecimento da infraestrutura nacional para o tráfego de dados digitais e a criação de uma política industrial para o setor de comunicação digital são algumas das soluções apontadas para reduzir a vulnerabilidade brasileira na internet pelo coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP), o professor Pablo Ortellado.

"Uma das coisas mais óbvias é fortalecer a nossa infraestrutura nacional. Se eu tiver uma infraestrutura de cabos ou de redes que faça com que nem todos os dados que estão circulando nacionalmente precisem passar por outros países, isso aumenta minha capacidade de regulação nacional",disse o professor que participou hoje (18) do 4º Seminário de Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais, na capital paulista.

De acordo com Ortellado, a criação de uma política industrial para o setor de comunicação digital, com ações tributárias e de financiamento público, também poderia diminuir a fragilidade brasileira na rede mundial, criando bases para o estabelecimento de operadores nacionais no mercado de e-mails e redes sociais.

"Se a gente faz um estudo comparativo com os grandes emergentes, com a Rússia, com a China, mesmo com a Coreia do Sul, nós vamos ver que o mercado de e-mail, de microblog e de rede sociais, são dominados por atores nacionais. E esse não é o nosso caso. A gente precisa ter operadores nacionais", destacou.

O professor ressaltou que, em consonância com essas medidas, será necessário aprovação de um marco civil na internet e de uma lei de proteção de dados pessoais que não sejam condescendentes com ações invasivas do governo."Nada disso resolve o nosso problema se transferirmos o perigo das ações da NSA [Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos] do governo americano, que não é um país que tem histórico de proteção de direitos civis, para o Brasil, que talvez tenha ainda menos tradição de proteção dos nossos direitos civis",disse.

O professor de ciências da computação da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Silvio Meira, ressaltou que a criação de uma política industrial e alterações das leis teriam efeitos limitados. Segundo ele, uma solução para a falta de segurança na internet está em um novo desenho da rede mundial.

"A legislação atualmente existente nos Estados Unidos não autoriza a NSA a fazer o que ela faz. E, mesmo assim, ela faz. Imagine se a nossa presença na internet fosse uma máquina controlada por cada um de nós, em uma internet com a mesma classe de protocolos que existe hoje, mas eu controlasse as minhas informações", sugeriu."É como se cada usuário do Facebook fosse um agente independente articulado entre os agentes. Em uma rede como essa, eu teria controle sobre minha informação. Esse é tipo de redesenho que a gente tem que começar a fazer", disse.

Fonte: Jornal da Ciência.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Neurologista avalia alterações de substâncias em pacientes com doença carotídea assintomática

Várias são as causas que podem levar ao acidente vascular cerebral (AVC), o conhecido derrame cerebral. Uma delas é a estenose e/ou oclusão da artéria carotídea, que resulta da doença aterosclerótica, desenvolvida principalmente devido a fatores como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, dislipidemia, tabagismo e outros que levam à formação de placas nas artérias carótidas. Fragmentos dessa placa podem se desprender e entrar na circulação cerebral, onde ocluem um vaso cerebral ou ainda determinam a oclusão da própria carótida, acarretando então o AVC.

Verifica-se, entretanto, que a estenose e a oclusão podem estar presentes sem que o indivíduo tenha sido levado a apresentar qualquer sintoma ou sinal condizente com acidente vascular cerebral ou sintomas transitórios. Estes casos, verdadeiros achados decorrentes de exames de rotina, correspondem ao que se pode chamar de doença carotídea assintomática.

Pacientes que já sofreram acidentes vasculares cerebrais se beneficiam com a correção cirúrgica principalmente nos primeiros cinco anos. Desde a década de 80, esse procedimento passou a ser adotado também, em caráter preventivo, em relação a pacientes assintomáticos, assim considerados os que apresentam a obstrução, mas não revelam sintomas.Com o desenvolvimento de novos medicamentos, como as estatinas (usados para controlar o colesterol) junto ao uso de antiagregantes plaquetários, como o ácido acetilsalicílico, associados a um melhor controle dos fatores de risco, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, dislipidemia, tabagismo e acrescidos da prática de atividade física, o tratamento cirúrgico, de maneira geral, não corresponde a um benefício.

Entretanto, estudos divulgados na literatura médica, baseados na aplicação de exames neuropsicológicos, mostraram que pacientes com estenose assintomática apresentavam desempenho cognitivo inferior ao dos cidadãos sem a doença. Não havia ainda, porém, menção a alteração estrutural no cérebro que justificasse tal fato. Apoiado nesses estudos, o neurologista Wagner Mauad Avelar, orientado pelo professor Fernando Cendes e juntamente com a disciplina de cirurgia vascular sob direção da professora Ana Terezinha Guillaumon, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), constatou que a estenose assintomática não é tão inocente como poderia fazer inicialmente crer.

Surge daí outra questão: há um dano cerebral secundário resultante do comprometimento causado pela estenose e que afeta a cognição? Com o objetivo de responder a essas indagações ele se propôs a fazer a “Avaliação das alterações da substância branca e cinzenta cerebral nos pacientes com doença carotídea assintomática”.

O trabalho avaliou 25 pacientes com estenose de carótida/oclusão, assintomáticos, quanto a possíveis alterações da substância branca e cinzenta do cérebro, comparando os resultados com os de um grupo de controle constituído por 25 indivíduos saudáveis, pareados por idade. A estenose/oclusão foi caracterizada através da angiotomografia e todos os pacientes foram submetidos à ressonância magnética de encéfalo. As imagens foram analisadas com a utilização do método de morfometria baseada em voxel (VMB) e por tensor de difusão (DTI).

A propósito dos resultados, Avelar afirma: “Nossos achados mostram que as estenoses/oclusões carotídeas assintomáticas estão associadas a alterações [atrofia] na substância cinzenta do hemisfério ipsilateral [do mesmo lado] à estenose. Estes dados, se confirmados, poderiam justificar o declínio cognitivo observado nesses pacientes, uma vez que a função cognitiva está intimamente relacionada com a integridade da substância cinzenta. Tal alteração pode decorrer da alteração hemodinâmica cerebral causada por estas estenoses, que em última análise leva a hipóxia dos neurônios, ou seja, à falta de aporte de oxigênio suficiente para o ideal funcionamento da célula. O estudo é o primeiro que pode explicar e justificar tais achados”.

O estudo
O estudo se justifica quando se sabe que a prevalência da estenose carotídea assintomática aumenta com a idade, atingindo cerca de 10% dos homens com mais de 80 anos. Ela é responsável por 15% dos AVC isquêmicos, em que não ocorre rompimento dos vasos. A conduta médica nos casos assintomáticos gera ainda controvérsias quanto ou ao tratamento clinico, ou à angioplastia – colocação de stent –, ou à endarterectomia (cirurgia para remoção das placas).

O cérebro é constituído fundamentalmente pelas substâncias branca e cinzenta. A cognição está relacionada com a substância cinzenta, onde se encontram os corpos dos neurônios. Os oxônios, prolongamento dos neurônios responsáveis pelos impulsos elétricos, disseminam-se na substância branca. Sabe-se que os quadros cognitivos estão ligados à integridade dos neurônios.

Como nas situações de estenose, a ressonância magnética normalmente utilizada não mostra possíveis alterações nas substâncias branca e cinzenta, apesar das evidências cognitivas reveladas pelos testes, a grande pergunta que se colocava para o pesquisador era: será que existem lesões na microarquitetura que não são vistas na inspeção visual normal? A pesquisa orientou-se na procura dessa resposta. Avelar partiu então para a avaliação da microestrutura cerebral, usando duas técnicas da ressonância magnética.

Utilizou a morfometria para determinar através dos tons de cinza as diferenças que pudessem existir na parte cinzenta em relação a um grupo de controle. Trata-se de um método quantitativo de análise de imagens que apresenta a vantagem de permitir detectar áreas de alteração estrutural, não observadas através da análise visual. Uma varredura permite detectar atrofias em todo o cérebro e estabelecer comparações com o grupo de controle em relação às duas substâncias.

Depois, ele utilizou a imagem por tensor de difusão para avaliar se existiam diferenças basicamente nos axônios, que constituem as fibras de projeção dos neurônios que se estendem pela substância branca. E, neste caso, encontrou uma diferença bilateral, ou seja, as alterações em princípio são independentes da estenose, pois não se manifestam apenas no hemisfério ipsilateral, ou seja, do mesmo lado da estenose.

Avelar explica: “Em princípio, essas alterações não podem ser associadas à estenose pois, se assim fosse, elas deveriam ocorrer do mesmo lado do cérebro. Nós acreditamos que essa alteração uniforme em toda a substância branca está associada aos próprios fatores de risco relacionados à estenose, como hipertensão, diabetes, tabagismo e dislipidemia, porquanto o grupo de controle era constituído por pessoas saudáveis”.

Já em relação à substancia cinzenta, detectou uma atrofia, ou seja, uma perda de volume de massa cinzenta, quando comparou com grupo controle e também quando comparou o hemisfério cerebral dos pacientes do lado sem estenose com o hemisfério cerebral do lado da estenose. Ou seja, o hemisfério que tinha a circulação comprometida, irrigado pela artéria com estenose, era o mais afetado. Isto levou à conclusão de que “existe uma associação entre a presença das placas e o comprometimento da substância cinzenta”.

Resultados
Diante dessas constatações, o autor conclui que a atrofia da substância cinzenta pode ser associada às estenoses carotídeas assintomáticas, mas estas não estão relacionadas às alterações da substância branca. Entende que isso ocorre porque a estenose repercute hemodinamicamente no fluxo sanguíneo afetando os neurônios, presentes na massa cinzenta, mais sensíveis à falta ou diminuição da oxigenação.

O próximo passo da investigação envolve a avaliação das imagens de dezessete pacientes acompanhados pela cirurgia vascular, que foram submetidos à remoção das placas. As imagens dos cérebros desses pacientes, obtidas seis meses depois da cirurgia, permitirão novas avaliações da massa cinzenta. Se constatada diminuição na perda dessa substância nesses pacientes, então se poderá concluir que a atrofia é causada pela estenose. E, neste caso, esclarece o pesquisador, mais do que associação, se poderá falar em causalidade, pois fica evidente que a eliminação da estenose muda o quadro patológico. Em consequência, afirma Avelar, talvez se passe a investigar mais minuciosamente os pacientes que apresentam perdas cognitivas, mesmo leves, incluindo-os na avaliação da carótida, mesmo diante de quadros assintomáticos, para que possam a vir se beneficiar de uma cirurgia de caráter preventivo.

Publicação
Tese: “Avaliação das alterações da substância branca e cinzenta cerebral nos pacientes com doença carotídea assintomática”
Autor: Wagner Mauad Avelar
Orientador: Fernando Cendes
Unidade: Faculdade de Ciências Médica

Fonte: Jornal da Unicamp.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Especialistas que tratam jovens com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) poderão, em breve, ganhar um aliado inusitado: o videogame.

Pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o departamento de Medicina Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Duke University, dos Estados Unidos, estão desenvolvendo um jogo cujo objetivo principal é treinar, nos jogadores, o controle inibitório – habilidade cerebral responsável por frear respostas inadequadas a estímulos ambientais, que normalmente é falha nos portadores da doença.

“Quando o controle inibitório não está bem desenvolvido, muitos problemas podem acontecer, como abuso de substâncias, sexo sem proteção, brigas e acidentes”, explicou o neuropsicólogo Thiago Strahler Rivero, autor de pesquisa de doutorado apoiada pela FAPESP e orientada por Orlando Francisco Amodeo Bueno, docente do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

Segundo Rivero, o treino do controle inibitório é importante principalmente na adolescência, fase em que a impulsividade está naturalmente exacerbada e em que as estatísticas de envolvimento em situações de risco ligadas ao TDAH são mais alarmantes.

“Fazer um adolescente aderir ao tratamento e mantê-lo motivado é uma de nossas maiores dificuldades na clínica. Por isso optamos pelo videogame”, contou Rivero.

O jogo, batizado de Project Neumann, está dividido em quatro partes. Cada uma delas representa um reino diferente e está diretamente relacionada aos diversos sintomas presentes na falta de controle do impulso. Heróis auxiliam o jogador na luta contra o inimigo principal: o próprio TDAH.

“Os quatro heróis coadjuvantes representam algumas das características mais prevalentes do transtorno: dificuldade de focar a atenção, dificuldade de controlar impulsos motores, dificuldade para ignorar distrações e dificuldade no controle do planejamento, que é a incapacidade de moldar as ações do presente pensando nas consequências futuras”, explicou o pesquisador.

Treinar essas capacidades nos jogadores, porém, é apenas um dos objetivos do Project Neumann, contou Rivero. “Também queremos testar se o jogo pode ser uma ferramenta de avaliação dessas habilidades e, para isso, estamos comparando com as escalas de avaliação consideradas padrão-ouro na literatura. Essas escalas ajudam no diagnóstico e no acompanhamento do tratamento”, explicou.

Uma terceira meta dos pesquisadores é a psicoeducação. A ideia é que, ao jogar, os portadores de TDAH aprendam sobre a doença, adquiram consciência de suas próprias dificuldades e conheçam estratégias para superá-las.

“Estudos mostram que o treino cerebral feito de forma isolada traz poucos resultados. A psicoterapia, isoladamente, colabora na construção de uma compreensão dos sintomas e de seu impactos, mas estudos demonstram que, no longo prazo, a eficácia não é tão grande. Tratar apenas com medicação até tem uma boa eficácia, mas não possibilita o aprendizado de habilidades importantes para a vida adulta. Por essas razões, o consenso é de que o tratamento do TDAH deve ser multimodal”, afirmou Rivero.

O desenvolvimento dos personagens e do enredo foi, de acordo com Rivero, baseado em teorias da Psicologia, da Neuropsicologia e da Neurociência.

“Com nossos parceiros do Laboratório de Investigações Neuropsicológicas da UFMG, que são especialistas no estudo da impulsividade no Brasil, em especial meu co-orientador Leandro Maloy-Diniz, delimitamos regiões do cérebro que, de acordo com a literatura, precisam ser estimuladas para melhorar o controle inibitório”, afirmou o pesquisador. “Então criamos tarefas a serem cumpridas pelos jogadores baseadas nessas teorias”, disse.

Um sistema que permite gerar gráficos e relatórios de desempenho no fim de cada fase foi desenvolvido para ajudar a monitorar a evolução dos jogadores. No momento, o jogo está na fase de refinamento do game e de validação.

“Já fizemos três rodadas de testes com voluntários. Inicialmente, eles apenas ajudaram a avaliar características como diversão, capacidade de fazer o jogador se envolver com a história e jogabilidade. Na última rodada já coletamos alguns dados e agora estamos comparando com as escalas de avaliação padrão ouro para ver se há correlação e fazer a validação estatística”, contou Rivero.

Parcerias internacionais
Outra forma de avaliar se, de fato, cada parte do jogo está estimulando a habilidade proposta é por meio da ressonância magnética funcional. “Pretendemos colocar os voluntários para jogar dentro do equipamento para ver se as regiões do cérebro que são estimuladas no exame são as que queremos estimular. Para isso, estamos firmando uma parceria com a University of Southern California, dos Estados Unidos”, contou. A equipe também envolve colaboradores da área de design e desenvolvimento de games.

Os resultados preliminares foram apresentados por Rivero durante o World Congress on Brain, Behavior and Emotions, realizado no fim de junho em São Paulo. O trabalho também foi apresentado na E3, principal feira de games do mundo, após o grupo ficar em terceiro lugar na competição de jogos independentes Indies Crash, em que concorreram 677 jogos de todo o mundo.

“Embora o jogo seja focado no tratamento do TDAH, nossa ideia é criar um método que depois possa ser aplicado para autismo, transtorno bipolar e outros problemas psiquiátricos”, afirmou Rivero.

Fonte: Agência Fapesp.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pesquisa desenvolve soluções algorítmicas para a triagem de pacientes diabéticos

Em segundos, uma pessoa com diabetes tem o fundo dos olhos “fotografado”, analisado por um equipamento, portátil e de baixo custo, capaz de revelar automaticamente se é preciso agendar uma consulta médica para ela porque apresenta sinais de uma retinopatia diabética, ou seja, possui lesões na retina causadas por complicações decorrentes da doença, hoje a principal causa de cegueira irreversível no Brasil – segundo o Ministério da Saúde. Com o apoio de um programa que aprendeu a “entender” essas imagens, profissionais de uma unidade básica de saúde ou equipes volantes podem levar aos consultórios, precocemente, quem precisa de atendimento e tratamento, reduzindo o número de consultas desnecessárias, a fila de espera e os custos com a doença que pode ter o avanço controlado pelos médicos.

Em um futuro, não muito distante, essa pode ser a realidade do atendimento de pacientes com diabetes, como resultado de uma nova ferramenta que está em desenvolvimento no Instituto de Computação da Unicamp: um programa capaz de adquirir imagens digitais da retina, analisar a qualidade, verificar a existência de traços de lesões, combinar diversos tipos de respostas para um conjunto de diferentes problemas, indicar se a pessoa precisa de uma consulta com especialista dentro de um ano e ainda classificar a situação conforme a gravidade, para auxiliar no diagnóstico. As “habilidades” desse software, que integra a análise simultânea de seis diferentes indícios de retinopatia diabética, são inéditas entre as pesquisas similares no país. Graças a elas, o tamanho e o custo dos atuais retinógrafos poderão diminuir, facilitando a ampliação do número de postos de triagem e acompanhamento de pacientes.

“No futuro, teremos um retinógrafo equipado com técnicas de aprendizado de máquina, de inteligência artificial, capaz de, automaticamente, analisar a qualidade de uma imagem adquirida e verificar se um determinado paciente com diabetes precisa ver o médico dentro de um ano ou não. O mais importante é que o médico ainda dará o diagnóstico”, explica o professor Anderson Rocha, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, orientador da dissertação de mestrado que construiu a nova técnica e os algoritmos que sustentam o programa, de autoria do agora doutorando José Ramon Trindade Pires. A pesquisa, realizada desde 2009 na Unicamp, já contou com recursos do Instituto Microsoft e, mais recentemente, financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Participam ainda do projeto os professores Jacques Wainer e Siome Klein Goldenstein, ambos do Instituto de Computação, além de Eduardo Valle, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), e do médico Herbert Jelinek, da Charles Sturt University, na Austrália, além de colaboradores na Universidade Federal de São Paulo, como os professores Ivan Pisa, Michel Eid Farah, Paulo Schor e Eduardo Dib.

Na prática, a partir de uma parceria com especialistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que captam imagens de exames de retina e identificam pontos de interesse nelas para o diagnóstico médico de retinopatia diabética, pesquisadores da Unicamp desenvolveram soluções para que o computador “aprenda” a examinar precocemente se o paciente apresenta ou não alguma das mais comuns lesões associadas à retinopatia diabética, medida que pode fazer a diferença entre ter ou não a visão. Resumidamente, o software desenvolvido pela Unicamp transforma pixels (menor ponto que forma uma imagem digital) em informações médicas que serão interpretadas a partir do conhecimento disponível sobre diferentes tipos de lesões. “Temos uma precisão, hoje, de 92,4% e que será aprimorada”, afirma Pires, aluno de doutorado e autor da dissertação de mestrado “Diabetic retinopathy image quality assessment, detection, screening and referral”. O objetivo do trabalho é criar uma ferramenta para a triagem automática de pacientes com diabetes.

O mapeamento de retina, realizado por oftalmologista, permite analisar todas as estruturas da retina, do nervo óptico e vítreo, para o diagnóstico, rastreamento e monitoramento das retinopatias diabéticas. Mesmo com resultado considerado normal em um exame, esse paciente deve realizar nova reavaliação a cada período de até dois anos, como recomenda publicação do Ministério da saúde (“Cadernos de Atenção Básica”).

Se avaliados números recentes de aumento da doença para os próximos anos, a pesquisa da Unicamp ganha ainda mais importância. Hoje, mais de 5% da população no Brasil, cerca de dez milhões de brasileiros, são diabéticos, segundo a pesquisa do Ministério da Saúde (Vigitel 2011). No mundo, existem 366 milhões de doentes, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes, e esse número deve chegar a 552 milhões até 2030.

A retinopatia diabética é um problema assintomático, que acomete a maioria dos portadores de diabetes após alguns anos de doença (tipicamente 20 anos). A presença de lesões na retina também é um marcador precoce de complicações microvasculares e do risco de comprometimento renal, razões que demandam acompanhamento médico. Em 1997, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que, após 15 anos, 2% dos diabéticos estarão cegos e 10% terão deficiência visual grave. A entidade também avaliou que, no mesmo período, até 45% dos doentes terão algum tipo de retinopatia. Apesar disso, o controle da glicemia e da pressão arterial são formas efetivas de prevenir e controlar a progressão da doença. Também é possível tratamento com fotocoagulação (aplicação de laser para cauterização).

“O grande trabalho a ser feito pelo médico, de forma geral, é analisar periodicamente pacientes que tenham diabetes para verificar se a retina dele está evoluindo para um quadro de retinopatia diabética. Se estiver, deve tomar medidas apropriadas para que essas pessoas não percam a visão”, explica o professor Rocha, orientador da pesquisa. Hoje, os médicos não usam o computador para o diagnóstico e analisam diretamente as imagens de fundo de olho adquiridas pelo retinógrafo. “O que fizemos foi desenvolver algoritmos que capturam as propriedades que os médicos analisam para fazer com que o computador consiga dizer se a imagem é normal ou se o paciente precisa procurar um especialista.”

Pesquisa
Neste momento, a pesquisa do Instituto de Computação da Unicamp já resultou na elaboração de um algoritmo capaz de “ensinar” o computador a “entender” cerca de centenas de pontos de interesse em apenas uma imagem digital coletada, levando em conta sinais de diferentes tipos de lesões mais comuns em retinopatias diabéticas, como: exsudatos duros, manchas algodonosas, drusas maculares, lesões vermelhas e hemorragias superficiais e profundas.

A precisão está em torno de 90%, ou seja, de cada 100 pacientes que tiveram uma imagem de fundo de olho analisada e houve recomendação do programa de computador para que procurassem atendimento com especialista, porque apresentavam sinais da doença, de fato, 90 precisavam realmente de atendimento. De acordo com os protocolos médicos vigentes, apenas um pequeno número de pessoas seriam classificadas de modo diferente, mas os pesquisadores trabalham para reduzir esse número dado que a margem de acerto da triagem automática aumenta à medida que outras imagens da retina do mesmo paciente podem ser captadas e analisadas. A economia do tempo médico, hoje, de acordo com os autores da pesquisa, já poderia ser de 85%, graças ao apoio da ferramenta. Para o doutorado, o desafio de Ramon será integrar todas as habilidades do programa para a triagem de pacientes diabéticos, além de aprimorar a precisão dessa seleção, de ampliar o número de lesões detectadas e de classificar a gravidade do caso analisado. “O grande objetivo é integrar tudo num retinógrafo de uma empresa, colocar todos os algoritmos em um único aparelho para que todas as etapas sejam automáticas. Temos alguns parceiros em potencial. A pesquisa passará a contar, também, com o apoio da Samsung”, comenta o professor Anderson Rocha. O trabalho deve ser concluído nos próximos três anos.

Segundo ele, a grande inovação da pesquisa, e que a difere de outras que trabalham nessa linha, é que todos os detectores desenvolvidos funcionam de forma unificada – normalmente, cada problema possui uma técnica específica. O programa da Unicamp ainda possui a habilidade de avaliar a qualidade da imagem capturada e informar, de imediato, se há necessidade da coleta de nova “fotografia” do fundo do olho. Desse modo, o paciente não corre o risco de voltar para casa e ter que repetir o exame depois, tampouco será necessário manter um monitor acoplado ao aparelho – hoje uma das peças que encarece o equipamento, de acordo com o autor da dissertação de mestrado. A rotina simplificada do aparelho, apoiada no novo software, permitirá que enfermeiros realizem o exame e o resultado ajudará a montar a fila de atendimento médico para a realização do diagnóstico final.

Entenda mais sobre o diabetes
Diabetes Mellitus
É um grupo de doenças metabólicas caracterizas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente nos olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos

Epidemiologia

  • Estima-se que, em 1995, o diabetes atingia 4% da população adulta mundial e que, em 2025, alcançará a cifra de 5,4% (a maior parte desses doentes em países em desenvolvimento)
  • Mundialmente, os custos diretos para o atendimento ao diabetes variam de 2,5% a 15% dos gastos nacionais em saúde, dependendo da prevalência local de diabetes e da complexidade do tratamento disponível
  • No Brasil, o diabetes e a hipertensão arterial são a principal causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e de diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à diálise
Fonte: Ministério da Saúde/Cadernos de Atenção Básica

Publicação
Dissertação: “Diabetic retinopathy image quality assessment, detection, screening and referral”
Autor: José Ramon Trindade Pires
Orientador: Anderson Rocha
Unidade: Instituto de Computação (IC)
Financiamento: Capes/Fapesp

Fonte: Jornal da Unicamp.

domingo, 22 de setembro de 2013

Um estudo realizado nos Estados Unidos, envolvendo 48 crianças de 9 e 10 anos, indica que crianças com melhor forma física têm maior facilidade de memória e aprendizado. O trabalho é apresentado em artigo publicado no periódico online PLOS ONE.

“Há uma crescente tendência de inatividade entre as crianças, o que aumenta a probabilidade de excesso de peso e mau preparo físico”, escrevem os autores. “Essa inatividade não apenas resulta em má saúde física, mas também pode causar má saúde cognitiva”.

As crianças participantes do estudo tiveram o preparo físico avaliado num teste de esteira ergométrica, e foram divididas em um grupo de bom preparo e um de preparo ruim. Elas tiveram, então, de estudar geografia num iPad – o objetivo era memorizar o nome e a localização de uma série de regiões. No dia seguinte, o conhecimento adquirido foi testado.

Os participantes com boa forma física se saíram melhor no teste do que os de baixa forma física, escrevem os autores, quando a estratégia de estudo usada foi de simples memorização. Mas quando uma estratégia pedagógica mais sofisticada – envolvendo memorização e exercícios – foi adotada, não houve diferença.

Fonte: Jornal da Unicamp.

sábado, 21 de setembro de 2013

Objetivo é dar mais tempo aos pacientes que esperam por transplante, oferecendo tecnologia nacional para substituir os caros dispositivos importados

O primeiro coração artificial totalmente implantável em desenvolvimento no Brasil está pronto para ser testado em humanos. Além disso, os pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, responsáveis pelo projeto, estão trabalhando no desenvolvimento de uma bomba cardíaca também totalmente implantável e que permite maior tempo e qualidade de vida a pacientes na fila de espera por transplante.

Segundo o professor José Roberto Cardoso, diretor da Poli e coordenador da pesquisa, a bomba, cientificamente chamada de dispositivo de assistência ventricular, ainda precisa passar por mais testes em animais, antes de chegar à fase de testes clínicos, com humanos. "Nossos próximos passos é fazer o teste em animais, mas dessa vez com o dispositivo totalmente implantado, e reduzir seu tamanho o máximo possível", conta.

Já o projeto do coração artificial implantável, iniciado pelo Dante Pazzanese no ano 2000, está mais adiantado. "Já tivemos o pedido para testes clínicos na ANVISA [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] aprovado, e estamos trabalhando na seleção dos pacientes", afirma Aron José Pazin de Andrade, diretor do Centro de Engenharia em Assistência Circulatória do Instituto Dante Pazzanese. Os médicos Andrade e Jarbas Dinkhuysen, também do Dante Pazzanese, são os pesquisadores principais do projeto.

Coube aos pesquisadores da Poli desenvolver a solução para a recarga das baterias dos dispositivos. Esse foi um grande desafio, já que o objetivo é ter dispositivos totalmente implantáveis, sem fios e conexões atravessando a pele dos pacientes. A Poli desenvolveu um sistema em que o carregamento é feito pelo contato de uma bobina no exterior do corpo com uma outra ligada ao dispositivo implantado. A energia elétrica é transmitida através da pele por indução. A equipe da Poli também trabalhou no desenvolvimento do sistema de controle eletrônico.

O coração artificial pode ser implantado como um anexo ou pode substituir o coração natural do paciente. É formado por duas câmeras de bombeamento e quatro válvulas. "Começamos esse desenvolvimento em 2000, mas com a entrada da Poli e o apoio da FAPESP, conseguimos avançar mais, de forma a chegar na fase de teste clínico", afirma Andrade. A meta é fazer testes com 10 pacientes.

Já a bomba serve apenas como auxiliar ao coração. Não pode substituir o órgão, como ocorre com o coração artificial, mas sim ajuda o coração a bombear o sangue. Há vários tipos de equipamentos que fazem isso, mas que não são implantáveis. "Já existem equipamentos como esse em outros países, mas é muito cara sua importação. Nossa proposta é desenvolver uma tecnologia nacional que tenha um custo bem menor", explica Cardoso. Um dispositivo importado pode facilmente ultrapassar o valor de R$ 200 mil. A equipe pretende desenvolver um que custe algo em torno de R$ 10 mil, o que viabilizaria a compra pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A vantagem da bomba é que não há partes expostas do dispositivo, o que reduz as chances de o paciente contrair uma infecção. Além da bomba, o dispositivo tem um pequeno motor, que a faz girar, uma bateria recarregável para alimentar o motor e um controle eletrônico de velocidade. Diferente do coração artificial, esta bomba não possui válvulas cardíacas, daí não poder substituir o coração natural.

Assim como ocorre com o coração artificial implantável, para reabastecê-la de energia não é preciso acoplar nenhum fio: tudo é feito pelo contato entre as bobinas. "O doutor Adib Jatene, do Hospital do Coração, nos ajudou na concepção da bomba, pensando em sua geometria e no tipo da bomba", conta Cardoso, falando da participação de um dos mais famosos cardiologistas do País.

"Agora vamos realizar o teste em animais fazendo o implante total, algo que não fizemos na primeira etapa", comenta ele. Os pesquisadores testaram o dispositivo em um bezerro, mas não o implantaram totalmente no animal. "Precisávamos ver se toda a eletrônica ia funcionar, se o motor ia operar adequadamente, se não ia se aquecer", diz. Também vão estudar uma forma de reduzir o tamanho do dispositivo. "Como ele é implantado dentro do tórax ou do abdômen, pode comprimir órgãos como o diafragma, pulmão e até o próprio coração, daí quanto menor for, melhor", acrescenta Andrade.

Um importante diferencial da tecnologia desenvolvida no Brasil em relação a outros está no tipo de bomba utilizado. Os pesquisadores optaram por usar uma bomba centrífuga, em que o sangue entra pelo centro do cilindro, e passa pela lateral. Nas bombas do tipo axial, o sangue entra por um lado de um tubo e sai pelo outro. "A movimentação da bomba pode agredir o sangue, destruindo glóbulos, causando coágulos que podem levar a uma trombose e matar o paciente", explica Cardoso. O mecanismo centrífugo desenvolvido no Brasil opera em velocidades mais baixas - duas mil rotações por minuto - enquanto as bombas axiais operam em 8 mil rotações, em média.

"É possível encontrar, no mercado dos Estados Unidos, por exemplo, seis tipos diferentes de bomba. Com nossas pesquisas, queremos fornecer uma gama de dispositivos para atender um grande número de necessidade de pacientes e médicos brasileiros", finaliza Andrade.

Fonte: Jornal da Ciência.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Ana Paula, de Três de Maio, ganhou equipamento que recebe comandos pelo piscar dos olhos

É com os olhos vidrados na tela do computador que Ana Paula Soares de Almeida, 21 anos, ultrapassa os limites do quarto. Desde 6 de setembro, a tecnologia ajuda a jovem de Três de Maio, no Noroeste, a vencer barreiras criadas por uma doença que a deixou em uma cama e sem a fala.

A história de Ana Paula foi mostrada por ZH em junho. Cerca de um mês antes, paralisada, ela dedicou três horas para ditar uma carta, sinalizando com piscar de olhos cada vez que lhe mostravam a letra certa. Ela pediu ajuda para sair da situação em que estava - e na qual se viu repentinamente após uma forte dor de cabeça, uma convulsão e 49 dias de internação. Divulgada nas redes sociais, parte da carta foi reproduzida por ZH e dezenas de pessoas se dispuseram a ajudar. Agora, com um computador e um mouse controlado pela webcam do aparelho, que capta os movimentos do rosto, ela consegue dar comandos piscando os olhos. Interage nas redes sociais, em jogos e em programas desenvolvidos especificamente para estimular o cérebro. Em 9 de setembro, postou: "meu primeiro post completamente sozinha".

A tecnologia, em que o equipamento fica acoplado a uma cadeira de rodas, é a Kids - Kit de Inclusão Digital e Social, doada pela Ortobras.

- A Ana Paula tem agora uma fala assistida por computador e pode se comunicar por textos escritos e vocalizados por ela com os olhos e a boca. Tenho certeza de que ela vai longe e nos dará grandes lições - explica Gilson Lima, doutor em Sociologia das Ciências e responsável por coordenar o desenvolvimento do equipamento. A mãe, Marli Erpich, comemora:

- A Ana já evoluiu muito e se adaptou muito rapidamente aos programas do computador e já faz tudo sozinha.

Após a reportagem e por intervenção do deputado federal Osmar Terra (PMDB), a jovem consultou no Instituto do Cérebro da PUC, na Capital. Em exames, foi apontada uma "lesão isquêmica na ponte por obstrução da artéria basilar" - a causa é incerta, mas sabe-se que ela teve uma isquemia. Médicos que atendem a jovem no Instituto do Cérebro não quiseram comentar o caso, mas o vice-coordenador do Departamento Científico de Doenças Cérebrovasculares, Neurologia Intervencionista e Terapia Intensiva em Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Norberto Luiz Cabral, explica que esse tipo de lesão ocorre quando a artéria que leva sangue ao cérebro sofre um entupimento:

- O tratamento depende muito da causa. No geral, o quadro de obstrução é mais grave (do que a romboencefalite, primeiro diagnóstico, em Três de Maio). Porém, é necessário avaliar caso a caso.

O que é o Kids
O Kit de Inclusão Digital e Social (Kids) foi projetado pela Ortobras, indústria da cidade de Barão, na Serra, em parceria com o Conselho Nacional de Pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Universidade de Lleida na Espanha e a Escola Estadual Paulo Conego de Nadal.

- Ele é integrado por um notebook configurado para dar o máximo de autonomia na interação de telas e em diferentes recursos digitais. O mouse de cabeça pode ser utilizado clicando com os olhos ou com a boca. Também conta com um programa que facilita o aprendizado da pilotagem de tela com a cabeça.

- O notebook está integrado com a cadeira numa bandeja. Inclui baterias e conexões para dar autonomia ao uso sem fios e possui uma placa que auxilia no monitoramento da tensão e do controle da recarga das baterias.

Fonte: Jornal da Ciência.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Material desenvolvido na FCM é capaz de acelerar a regeneração de tecidos em fístulas intestinais

O resultado surpreendeu até mesmo os pesquisadores que acompanhavam a evolução de uma fístula intestinal – uma ferida aberta, provocada por uma falha de cicatrização ainda de origem desconhecida e de difícil tratamento. No terceiro dia após a aplicação de um inédito fio de sutura enriquecido com células-tronco, notaram que a área do ferimento havia diminuído de tamanho, e quase fechado (75%). Trata-se de uma regeneração bem acima da obtida com os atuais recursos convencionais e que aplicam uma longa e complicada recuperação nos pacientes com esse tipo de problema em humanos, que pode durar de oito a dez semanas.

No estudo, células-tronco mesenquimais foram as responsáveis pelo “milagre” que acelerou a regeneração de tecidos em testes com animais (ratos). Elas estão no organismo humano porque possuem a capacidade de se diferenciar (transformar-se) em vários outros tipos de células, podendo iniciar a formação de um novo tecido, o que explica o resultado obtido. Na medicina, foram descritas pela primeira vez nos anos 70 e, desde então, pesquisadores têm buscado formas para aproveitá-las, o que não é tão simples, como mostram outros estudos no mundo e experimentos produzidos na Unicamp, para descobrir a melhor forma de transformá-las em outros tecidos e implantá-las no organismo.

O tempo médio de recuperação de fístulas intestinais em ratos, no tratamento convencional, está próximo do necessário para o tratamento de humanos (até dez semanas).
“As células mesenquimais podem ter se transformando em outras células [as que faltavam no local da ferida] ou liberado substâncias que propiciaram a diminuição do processo inflamatório e melhor vascularização na área e ativaram as células-tronco do próprio tecido na área afetada, para que se multiplicassem ali”, afirma Ângela Luzo, sobre o efeito no processo de cicatrização acelerado observado durante a pesquisa de mestrado realizada pelo biólogo Bruno Bosch Volpe. Os efeitos provocados por elas serão estudados pelo Grupo de Multidisciplinar de Terapia Celular da Unicamp, na tese de doutorado do autor do trabalho, quando também deverão acontecer os estudos clínicos, ou seja, os testes em humanos.

A grande inovação da pesquisa não foi o uso de células-tronco, mas a metodologia desenvolvida para “injetá-la” na fístula, por meio de um “fio de sutura enriquecido com células mesenquimais”, patenteado pela Agência de Inovação Inova Unicamp. De acordo com os pesquisadores, a simples aplicação das células no local do ferimento, como demonstrado em experimentos com cobaias, não apresentou o mesmo efeito de cicatrização.

A pesquisa juntou, com sucesso: um fio de sutura comum, usado há décadas pela medicina; uma cola cirúrgica humana (de fibrina), um selante biológico produzido a partir do plasma do sangue, que não tem contra indicações nem causa reação nos pacientes; e milhões de células tronco mesenquimais humanas, capazes de acelerar a cicatrização. “Com a aplicação do fio, observamos uma recuperação de 90% [média] da área afetada pela fístula, após 21 dias, sendo que em alguns animais a ferida fechou completamente”, avalia Bruno.

Em outras pesquisas realizadas no mundo, segundo o estudo brasileiro, foram testadas a aplicação de células-tronco diretamente na ferida (Espanha), mas sem o mesmo resultado de cicatrização, e a produção de um fio semelhante (Estados Unidos), produzido por meio de outro processo, mas em quantidade limitada – na Unicamp, os pesquisadores conseguiram a adesão de células em um fio longo com trinta centímetros, aplicado após dois dias da preparação, mas há uma expectativa de que ele “sobreviva” por sete dias.

O grupo brasileiro já tinha avaliado a efetividade da capacidade de adesão de células-tronco na cola de fibrina em um projeto de iniciação científica realizado pela aluna Larissa Berbert, sob a orientação do professor Paulo Kharmandayan, do Departamento de Cirurgia da FCM, e da professora Angela Luzo, hematologista. Essa linha de investigação surgiu a partir de uma aula na disciplina de cirurgia plástica, realizada em 2005 pelo cirurgião plástico Ithamar Stocchero, que questionou a possibilidade de células-tronco aderirem ao fio de sutura.

Anos mais tarde, o projeto da Unicamp funcionou porque, em laboratório, foi possível cultivar as células-tronco, aplicá-las no fio de sutura e, principalmente, mantê-las vivas, em quantidade suficiente, para que elas entrassem em ação na área do ferimento. Imagens captadas com a ajuda de microscópio mostram as células aplicadas aos filamentos que se entrelaçam no fio de sutura, completamente tomado pela cor verde, que marca cada uma delas, todas vivas, prontas para iniciarem o processo de cicatrização observado.

Indicação
Em média, 2% de pacientes submetidos a cirurgias no intestino desenvolvem esse tipo de fístula que serviu como base para os estudos, mas esse número pode chegar a 20% no caso de pacientes de risco, aqueles que estão tomando remédios imunossupressores, debilitados pelo câncer ou são portadores de algumas doenças específicas. “No tratamento convencional, na maior parte das vezes, é feita uma tentativa de sutura direta da fístula, o que é bastante complicado de fazer, ou há um suporte nutricional para o paciente e espera-se que a fístula feche, o que pode demorar, às vezes, 40 dias”, afirma o médico Joaquim Bustorff-Silva, professor e coordenador do Departamento de Cirurgia da FCM, que participa do grupo de pesquisa.

Quando estiver acessível à medicina, a nova tecnologia permitirá um “tratamento simples” e deve reduzir o tempo de recuperação dos pacientes. “Isso diminuirá muito a necessidade de internações, as complicações por causa das fístulas, mas, basicamente, reduzirá muito o tempo para a resolução do problema”, avalia o professor. A ferida aberta degrada a saúde do paciente, provoca perda de peso, desidratação, entre outros problemas.

Além disso, dois resultados chamam a atenção no estudo: não haveria a necessidade de avaliar a compatibilidade das células-tronco usadas no fio de sutura para os pacientes, como ocorre hoje em determinadas terapias; e não houve sinais de rejeição e inflamação do organismo em relação às células implantadas. Nos experimentos realizados pela Unicamp, fios de sutura foram enriquecidos com células-tronco humanas para aplicação em fístulas intestinais de cobaias (ratos), em um procedimento conhecido como “xenotransplante”.

Por enquanto, o tratamento é uma solução ainda cara, mas com potencial de aplicação em vários procedimentos da medicina, particularmente em pacientes de risco, como forma de acelerar a cicatrização e reduzir as complicações em procedimentos cirúrgicos, segundo os pesquisadores. O fio enriquecido tanto pode ser utilizado preventivamente como no tratamento de problemas desse e de outros tipos de fístulas.

Fabricação
No estudo realizado na Unicamp, as células-tronco mesenquimais foram extraídas da gordura – sim, aquela “substância amarelada” retirada em lipoaspiração é muito rica em uma variedade de células-tronco. “Esse tipo de célula existe em todos os tecidos, mas, para extrair, manipular, a gordura é a fonte mais fácil”, explica a pesquisadora Ângela Luzo. A medula óssea ou do sangue de cordão umbilical seriam outras fontes desse tipo de material.

De cerca de 20 ml a 30 ml de gordura, onde existem em torno de um milhão de células mesenquimais, o método permite multiplicá-las em laboratório e, ao final de 20 dias, existirão de 4 a 5 milhões delas, prontas para o processo de fabricação do fio enriquecido. A cola humana de fibrina, usada na produção, foi aprimorada para favorecer a adesão delas às fibras de sutura (veja na arte). Os médicos a usam para conter um sangramento, principalmente quando os pontos não dão conta sozinhos de estancar o sangue.

Na prática, ao absorver o fio enriquecido com células, o organismo recebe o “remédio” que acelera a proliferação de tecido no local da ferida e isso apressa a cicatrização.

“Pego o fio de sutura, coloco em cultura, gotejo um milhão de células nele e aplico a cola para que elas fiquem aderidas. Depois que impregnou o material, não solta e elas ficam vivas”, explica Bruno, ao lembrar que havia três problemas principais a serem superados: que as células morressem em contato com a cola, que ambas não resistissem ao procedimento cirúrgico (aplicação no tecido) e que não houvesse quantidade suficiente delas para ativar o processo de regeneração da área afetada pelo ferimento.

Na etapa de testes em animais (ratos), foram acompanhados três grupos: o primeiro, no qual observou-se a recuperação espontânea do organismo; o segundo, de ratos que receberam a aplicação direta de células-tronco mesenquimais; e a terceira, formada por aqueles que tiveram a ferida tratada com os fios de sutura enriquecidos.

A próxima etapa da pesquisa é estudar qual foi a função das células-tronco na cicatrização, onde e como elas ajudaram no processo, segundo o biólogo. O Grupo de Multidisciplinar de Terapia Celular da Unicamp planeja produzir, em maior escala, os fios de sutura enriquecidos com células mesenquimais aderidas para a realização de testes em humanos, que devem ocorrer ao longo dos próximos quatro anos.

Recuperação ocorre em menos tempo
A cicatrização das fístulas em ratos que receberam fios de sutura enriquecidos com células-tronco mesenquimais ocorreu, em média, 15 dias depois do procedimento, evolução mais rápida e bem diferente do que foi observado nos dois outros grupos de cobaias do experimento – dos que tiveram recuperação natural do ferimento e daqueles que passaram por procedimento de aplicação direta de células-tronco no local da ferida.

“Sabemos que esse tipo de célula [mesenquimais] libera vários fatores estimulantes de crescimento, substâncias que melhoram a cicatrização, que diminuem o processo inflamatório na região e que, portanto, poderão ser aplicadas em outros tipos de cirurgias e tratamentos”, afirma a hematologista Ângela Cristina Malheiros Luzo, professora da pós-graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, orientadora da pesquisa.

No experimento, todos os ratos tinham fístulas intestinais do mesmo tamanho. Os ferimentos foram acompanhados diariamente com o apoio de um programa de computador capaz de avaliar, por milímetro quadrado, a regeneração dos tecidos da área afetada. Segundo o autor do estudo, o biólogo Bruno Bosch Volpe, o grupo de cobaias que não recebeu nenhum tipo de tratamento, após 21 dias, apresentou pouca evolução depois de praticamente o dobro do tempo esperado para a cicatrização. “No outro grupo, que recebeu as células-tronco, semelhante ao realizado por pesquisadores espanhóis, a recuperação foi de 70% (da área afetada pela fístula). Com a aplicação do fio, no mesmo período, a recuperação média ficou em 90%”, explica. Além disso, em três dos nove ratos que receberam a sutura enriquecida, de fato, tiveram cicatrização completa da ferida durante o período observado.

O gráfico que mostra a evolução do fechamento da fístula, nos três grupos de cobaias, impressiona, assim como as fotos que demonstram a recuperação completa do tecido da ferida naqueles que receberam o fio com células mesenquimais. “No terceiro dia, o resultado obtido é praticamente igual ao obtido, depois de 21 dias, com a aplicação de células-tronco no local da fístula”, afirma o pesquisador.

A aplicação direta das células, sem o fio, foi um experimento realizado na Espanha e reproduzido pela Unicamp para comparação. Lá, pesquisadores realizaram o trabalho voltado para um possível tratamento da doença de Crohn, uma inflamação crônica do intestino, de origem autoimune e ainda desconhecida. Os sintomas e o tratamento dependem de cada caso, mas é comum a ocorrência de dor abdominal, diarreia, perda de peso e febre. Atualmente, não há cura, mas procedimentos para aliviar as complicações enfrentadas pelos doentes.

O resultado obtido pela pesquisa demonstra a importância do fio de sutura enriquecido desenvolvido na pesquisa da Unicamp para o processo de recuperação e prevenção de fístulas intestinais. Mais do que isso, a mesma metodologia poder ser experimentada em outros tipos de procedimentos semelhantes, o que aumenta o potencial de uso pela medicina, de acordo com os pesquisadores do Grupo de Multidisciplinar de Terapia Celular.

Esse grupo de pesquisa da Unicamp, além de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), envolve ainda as Faculdades de Engenharia Mecânica (FEM), Engenharia Química (FEQ), mais os Institutos de Biologia(IB), Química (IQ) e Física (IFGW), além do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biofabricação (Biofabris) e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).

Publicação
Dissertação: “Utilização de fio de sutura com células tronco mesenquimais de tecido adiposo aderidas: Avaliação da cicatrização e recuperação de fístulas enterocutâneas em ratos”
Autor: Bruno Bosch Volpe
Orientadora: Ângela Cristina Malheiros Luzo
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Financiamento: CNPq

Fonte: Unicamp.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Enfermeira desenvolve processo que pode atenuar quadro de Lesão Pulmonar Aguda

A respiração é fundamental à manutenção da vida e essa função é desempenhada por meio do sistema respiratório. Uma forma de avaliá-lo é pelo estudo da mecânica, que caracteriza e avalia como o ar entra e sai dos pulmões. No tratamento de uma Lesão Pulmonar Aguda (LPA), por exemplo, a ventilação mecânica é inestimável. É quando ocorre o aumento da elastância (resistência à força) nesse órgão, determinando o uso de pressões mais elevadas para a ventilação.

Em muitas situações, o organismo é incapaz de manter o nível de oxigenação adequado, pois, nos alvéolos (pulmões), região onde se efetuam as trocas gasosas, ele fica comprometido pelo processo inflamatório. Também podem ocorrer obstruções nas vias aéreas, prejudicando ainda mais a oxigenação e levando ao colapso alveolar. Diante desse cenário, o paciente necessita ser submetido à ventilação mecânica (com auxílio de aparelho).

Nos últimos 30 anos, tornou-se evidente que empregar altas pressões na ventilação mecânica, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais, pode desencadear, entre outros problemas, a Lesão Pulmonar Associada à Ventilação Mecânica. E, mesmo com todo investimento injetado na terapêutica dessa lesão, a mortalidade prossegue alta, já beirando 35% das ocorrências no mundo.

Por acreditar que poderia contribuir com essa problemática, em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), a enfermeira Márcia Zotti Justo Ferreira procurou auxílio da engenharia elétrica para buscar promover a reabertura das vias aéreas colapsadas dos pulmões.Ela inovou ao introduzir ondas sonoras ao experimento. A sua tentativa foi descobrir um modo ventilatório que não fizesse uso de altas pressões para a desobstrução das vias respiratórias e, dessa forma, não piorar um quadro de Lesão Pulmonar Aguda.

A princípio, relata a pesquisadora, poderia ser acoplado um equipamento emissor de som junto ao que já existe para o suporte ventilatório. “No estudo, o som ajudou a abrir as vias aéreas obstruídas, diminuindo o dano que as altas pressões imprimiriam aos pulmões”, comemora. O processo deve motivar uma patente – já depositada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) – e também o interesse de alguma empresa em investir nessa ideia.

Experimentos
A doutora desenvolveu modelos experimentais inéditos. O primeiro avaliou a influência da parede torácica sobre o sistema respiratório a partir de medidas da mecânica ventilatória. No segundo, provocou uma LPA induzida pelo herbicida Paraquat, no qual se comprovou o colapso das vias aéreas. E o terceiro analisou as curvas P-V (pressão-volume) após a aplicação de ondas sonoras em vias aéreas colapsadas, para notar o recrutamento alveolar. Os resultados deste terceiro modelo mostraram-se promissores.

A curva P-V é uma técnica diagnóstica para descrever as propriedades quasi-estáticas (muito lentas) do sistema respiratório. Situações como alteração nos volumes pulmonares são alguns indicadores precoces de que pode existir doença pulmonar. É o caso da LPA.

A própria ventilação mecânica pode iniciar a lesão pulmonar, chamada em inglês Ventilation Induced Lung Injury (VILI). Na década de 1970, em experimento com animais, percebeu-se inclusive que, após poucas horas de ventilação artificial, quando se usavam pressões elevadas nas vias aéreas, formava-se um intenso edema e mesmo hemorragia. Esse procedimento acabava levando a um estresse mecânico, com colapso alveolar e comprometimento do seu recrutamento, ocasionando lesões.

Não obstante, esse tipo de ventilação substitui a respiração fisiológica e proporciona, por meio de aparelhos, as trocas gasosas, trazendo oxigenação ao paciente. “Essa ventilação é indispensável a priori para o suporte aos criticamente doentes”, garante a enfermeira.

A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), ou Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (Sara), é a manifestação mais grave da Lesão Pulmonar Aguda. É provocada por diversos distúrbios que causam o acúmulo de líquidos nos pulmões, sendo uma resposta inflamatória aguda e grave de insuficiência respiratória a diversas formas de agressão que os pulmões podem sofrer (nesse caso altas pressões). Ambas são formas correlatas e mortais de falência respiratória aguda, sendo que os mecanismos que iniciam e propagam a lesão pulmonar ainda não foram completamente elucidados, nem o modo de ventilação mais adequado.

“A incorporação de diferentes e modernas tecnologias para a assistência ventilatória tem demandado o desenvolvimento de novas técnicas de assistência, as quais têm como objetivo a rápida identificação da enfermidade e o pronto atendimento a pacientes que se beneficiam da ventilação mecânica”, explana a doutora.

A tese de doutorado de Márcia, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, foi orientada pelo docente da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp Hugo Enrique Hernández Figueroa e coorientada pelo docente do Instituto de Física da USP Adriano Mesquita de Alencar.

Ausculta no diagnóstico
Desde Hipócrates, sabe-se que os sons pulmonares são uma forma diagnóstica de doenças pulmonares. Por meio deles encontram-se informações valiosas sobre a fisiologia e patologias pulmonares.

Sua audibilidade melhorou pelo surgimento do estetoscópio, idealizado pelo médico francês René Théophile-Hyacinthe Laënnec (1781-1826), e desde então vem sendo aperfeiçoado.

Tem-se como uma das características diagnósticaspara doenças pulmonares a ausculta dos sons pulmonares, dentre eles os sibilos (wheezes), que são sons contínuos, musicais e de longa duração. Eles têm sua origem nas vias aéreas e requerem o fechamento dos brônquios para serem produzidos, conhecidos popularmente como “chiados”.

Outro som pulmonar importante para o diagnóstico são os ruídos de crepitação (crakles) que são explosivos, agudos e de curta duração,ocorrendo no final da inspiração.Eles são gerados sobretudo pela abertura dos alvéolos colapsados ou ocluídos por secreções (líquido viscoso). Esses sons confirmam a presença de obstrução das vias aéreas. Conforme a autora da tese, o sistema respiratório é composto pelas vias aéreas e pulmões. As vias aéreas são classificadas como vias aéreas de condução e vias aéreas respiratórias.

Enquanto as vias aéreas de condução umedecem, aquecem e filtram o ar respirado, com a função de levar o ar para dentro e para fora dos pulmões, as vias aéreas respiratórias são a última parte da árvore brônquica, constituída pelos sacos alveolares. É nela que ocorrem as trocas gasosas. “Na árvore respiratória, o local onde acontece a troca gasosa são os alvéolos. O restante é chamado de espaço morto anatômico”, esclarece Márcia.

Publicação
Tese: “Estudo da aplicação de ondas sonoras na árvore pulmonar de roedores”
Autora: Márcia Zotti Justo Ferreira
Orientador: Hugo Enrique Hernández-Figueroa
Coorientador: Adriano Mesquita de Alencar
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

Fonte: Unicamp.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Como parte integrante da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Uberlândia, o Brincando e Aprendendo objetiva criar um espaço propício para que os estudantes da Educação Básica discutam sobre ciência e tecnologia, por meio de atividades lúdicas e interativas. O evento será realizado nos dias 15 e 16 de outubro, no bloco 5R do campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Escolas que queiram participar poderão se inscrever por meio de formulário específico, que deverá ser enviado para o e-mail snctudia2013@gmail.com. As vagas são limitadas.

Clique aqui para baixar o formulário de inscrição.
Os gestores e profissionais da área da saúde já contam, desde o mês de junho deste ano, com traduções e resumos de pesquisas científicas realizadas por professores e especialistas brasileiros em diversos segmentos. O projeto vem sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS) com o objetivo de facilitar a transferência do conhecimento.

São mais de 40 publicações acadêmicas de diferentes nichos da saúde divulgadas em importantes periódicos internacionais em 2012 e que receberão o serviço de tradução para o português", explica o coordenador do IATS, Flávio Fuchs.

A meta é que através das traduções, os profissionais absorvam mais conhecimento e ampliem sua capacidade para lidar com tratamentos de diversas doenças, podendo assim realizar atendimentos e ações mais eficazes na prática. "O foco está em auxiliar na tomada de decisão do melhor custo benefício dentro do sistema de saúde", destaca Fuchs.

A primeira tradução divulgada no formato de resenha foi a ¿Eficácia da aferição domiciliar da pressão arterial para o controle de hipertensão arterial: resultados de um ensaio clínico randomizado ¿ estudo Monitor'.

Segundo o coordenador, com base nesse estudo, a disponibilização em larga escala de programas de Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA) tem o potencial de melhorar as taxas de controle da hipertensão arterial e assim contribuir na prevenção das doenças cardiovascular e cerebrovascular associadas.

A previsão inicial é que as resenhas sejam publicadas mensalmente no informativo digital (newsletter) do IATS. Elas também estarão disponíveis no site do Instituto (www.iats.com.br), o qual possui interação com redes sociais, como Twitter e Facebook.

"O IATS tem ações que abrangem a pesquisa, ensino e assistência em saúde de diferentes formas, tendo a área da educação como um forte pilar de ação", ressalta Fuchs. Outro exemplo deste engajamento citado foi à realização da 1ª edição do curso de Ensino à Distância (EAD) sobre ATS para gestores de saúde, que ocorreu em 2012. A 2ª edição do evento está prevista para ocorrer no segundo semestre de 2013.

INCT
O INCT IATS vem desenvolvendo sua atuação na produção de orientações e avaliações críticas de tecnologias em saúde no Brasil. Os resultados se situam na área da pesquisa científica e tecnológica, na formação de recursos humanos e na disseminação do conhecimento, de modo a atender interesses do Sistema Único de Saúde (SUS), medicina suplementar e sociedade como um todo.

Com um grupo de mais de oitenta pesquisadores, o IATS tem representatividade na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de Brasília (UnB), Hospital do Coração (Incor), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O Instituto é coordenado pelos professores Flávio Danni Fuchs e Carisi Anne Polanczyk e sua sede está localizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Fonte: CNPq.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ex-ginasta fará palestra de abertura do evento sobre "Ciência, saúde e esporte"

A ex-ginasta Daiane dos Santos participará das atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no Rio Grande do Sul. Segundo a Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (Scit), a campeã mundial aceitou o convite para palestrar na abertura do evento no estado na cidade de Canoas, no dia 18 de outubro, a ser realizada no Centro Universitário La Salle (Unilasalle). A ex-atleta confirmou a presença durante reunião realizada com o secretário Cleber Prodanov, nesta quarta-feira (11).

Daiane é símbolo da campanha de divulgação da SNCT 2013, que traz como tema neste ano "Ciência, saúde e esporte". Além dela, o ex-jogador de vôlei e campeão de olímpico Paulo André Jukoski da Silva, o Paulão, estará presente.

Apesar de a abertura oficial ter sido programada para o dia 18, uma sexta-feira, as atividades no estado - que adotou o nome Semana Estadual de Ciência e Tecnologia - acontecem do dia 21 ao 25.

Para o período, as instituições de ensino participantes organizam palestras, encontros e seminários que buscam fomentar o estudo e o debate sobre os temas ligados à inovação. O objetivo da organização é popularizar o tema da ciência e da tecnologia, destacando a importância para a vida da sociedade e para o desenvolvimento regional, assim como contribuir para que a população possa conhecer e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas cientificas tecnológicas e suas aplicações.

Na edição do ano passado, a semana superou as expectativas da organização estadual, quando foram realizados 453 eventos em 37 cidades, com o envolvimento de 41 instituições. Em 2011, foram registradas 249 ações em 32 municípios.

Sobre a semana nacional
A SNCT é realizada em todo o país no mês de outubro, desde 2004, sob a coordenação nacional da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secis/MCTI) e a colaboração de entidades e instituições de ensino, divulgação e pesquisa. A finalidade principal é mobilizar a população, em especial crianças e jovens, a respeito de temas e atividades de ciência e tecnologia (C&T).

Em sua trajetória, o evento tem registrado participação crescente de instituições de pesquisa, de ensino e municípios. Em 2012, foram contabilizadas no próprio site do evento mais de 28 mil atividades - um recorde de ações e também de participação, com o envolvimento de 911 instituições espalhadas por 722 cidades brasileiras.

Como acontece a cada ano, as ações são promovidas em torno de um tema de importância social. A temática dessa décima edição está em sintonia com os grandes eventos esportivos realizados ou previstos para acontecer no Brasil, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.

O trinômio ciência, saúde e esporte é representado no material de divulgação com a fotografia de um salto de alta de performance de Daiane Santos, sobreposta à imagem do homem vitruviano - conceito de proporções perfeitas - ilustrado pelo artista renascentista italiano Leonardo da Vinci.

Fonte: Jornal da Ciência.

domingo, 15 de setembro de 2013

Especialistas em cardiologia estimam que até 80% das mulheres podem se tornar hipertensas após a menopausa. Para prevenir o problema, a prática de exercícios físicos precisa ser incluída na rotina por volta dos 40 anos de idade, muito antes da última menstruação acontecer.

O alerta foi feito pela pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Angelina Zanesco, que coordena uma pesquisa cujo objetivo é desvendar os mecanismos biológicos responsáveis pelo aumento da pressão arterial feminina nessa faixa etária.

Os primeiros resultados do estudo, que tem apoio da FAPESP, foram apresentados durante a 28ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia experimental (FeSBE), realizada entre os dias 21 e 24 de agosto em Caxambu, Minas Gerais.

“Muitas mulheres começam a se preocupar com a atividade física somente após os 50 anos, quando a barriga começa a crescer. Mas nossos resultados mostram que, para evitar o desenvolvimento da doença, a intervenção precisa ser feita antes que ocorram as mudanças metabólicas e hormonais da menopausa”, afirmou Zanesco.

Para chegar a tal conclusão, a equipe do Laboratório de Fisiologia Cardiovascular e Atividade Física da Unesp em Rio Claro (SP) avaliou em dois grupos de mulheres – pré e pós menopausa – o funcionamento do chamado sistema renina-angiotensina, um conjunto de peptídeos, enzimas e receptores envolvidos no controle da pressão arterial.

“O sistema renina-angiotensina é responsável por elevar a pressão arterial, principalmente por meio da constrição dos vasos sanguíneos, e isso tem uma importância fisiológica. No caso de um acidente com hemorragia ou de uma infecção generalizada, por exemplo, esse sistema impede que a pressão arterial caia demais e o indivíduo desmaie. Mas quando o mecanismo é ativado sem necessidade, acaba levando à hipertensão”, explicou Zanesco.

Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 42 mulheres com mais de 40 anos que ainda não estavam na menopausa e de outras 32 que já estavam havia pelo menos 12 meses sem menstruar.

“Para ter certeza de que a voluntária estava de fato na menopausa, medimos os níveis dos hormônios LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo estimulante), que são marcadores da falência ovariana”, explicou Zanesco.

Em seguida, mediram nos dois grupos os níveis plasmáticos da enzima conversora de angiotensina e de diversos peptídeos, como angiotensina 1, angiotensina II e a angiotensina 1-7. Os resultados mostraram que, de maneira geral, o sistema renina-angiotensina estava até 80% mais ativo no grupo de mulheres pós-menopausa quando comparados às mulheres na perimenopausa.

“Quando comparamos apenas as mulheres normotensas, pré e pós menopausa, não vemos grandes diferenças. Mas, quando comparamos as hipertensas, o aumento na atividade do sistema renina-angiotensina chega a 150%. Esses dados mostram que, se a mulher esperar a menopausa para mudar seu estilo de vida, pode ser um pouco tarde e esse sistema já estará ativado para causar uma patologia”, avaliou Zanesco.

Benefícios
Desde meados da década de 1990, diversos estudos têm mostrado os benefícios de exercícios aeróbicos no controle da pressão arterial. O efeito também foi comprovado no experimento feito com 40 mulheres – 29 normotensas e 21 hipertensas – no Laboratório de Fisiologia Cardiovascular e Atividade Física da Unesp.

Após dois meses de treinamento na esteira, que incluía três sessões de 40 minutos por semana, em ritmo moderado, houve redução da gordura abdominal de aproximadamente três centímetros. Além disso, a pressão arterial das normotensas caiu 4 milímetros de mercúrio e a das hipertensas, 7 milímetros de mercúrio.

“Seria o equivalente a descer de uma pressão de 13.2 para 12.5, por exemplo. É uma redução importante para um período tão curto e o suficiente para reduzir em 40% o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral”, afirmou Zanesco.

No momento, os pesquisadores tentam descobrir por meio de quais mecanismos biológicos a atividade física ajuda a regular a pressão. A primeira suspeita, que não se confirmou, estava relacionada à redução nos níveis de cortisol e de testosterona.

“Sabemos que o cortisol, o hormônio do estresse, é produzido e liberado pelo tecido adiposo visceral. Achávamos que reduzindo a gordura da barriga haveria redução no nível de cortisol, mas não foi o que observamos”, contou Zanesco.

Os níveis plasmáticos de testosterona – que já foi relacionada em estudos anteriores ao aumento da pressão arterial na menopausa – também ficaram inalterados após o período de treinamento físico.

“Agora vamos iniciar uma nova leva de experimentos e medir outros biomarcadores, como óxido nítrico e GMP (guanosina monofosfato) cíclico, que são agentes vasodilatadores”, contou.

Outra hipótese a ser investigada é a de que a atividade física estimula a liberação de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase (SOD) e catalase (CAT), o que promoveria a redução do estresse oxidativo e ajudaria a reduzir a pressão arterial.

Por último, serão avaliados mediadores inflamatórios – como a proteína C reativa, produzida pelo fígado, e interleucinas produzidas pelo tecido adiposo visceral –, que podem ser a gênese do problema.

“Se conseguirmos entender os mecanismos da hipertensão nessa faixa etária poderemos encontrar meios para prevenir mais eficazmente o problema. Além de melhorar a saúde da população, isso reduziria muito os gastos do sistema de saúde”, avaliou Zanesco.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a hipertensão é responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.

De acordo com a Diretriz Brasileira sobre Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Mulheres Climatéricas e a Influência da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) da SBC e da Associação Brasileira do Climatério (Sobrac), até os 55 anos há um maior percentual de homens com hipertensão.

Dos 55 aos 74 anos, o percentual de mulheres é discretamente maior. Acima dos 75 anos, o predomínio no sexo feminino é significativamente superior. Os especialistas que formularam a diretriz estimam que cerca de 80% das mulheres, eventualmente, desenvolverão hipertensão na fase de menopausa.

De acordo com o levantamento Vigitel 2011 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, a hipertensão arterial atinge 22,7% da população adulta brasileira. A frequência da doença avança com o passar dos anos. Se entre 18 e 24 anos apenas 5,4% da população relatou ter sido diagnosticada hipertensa, aos 55 anos a proporção é 10 vezes maior, atingindo mais da metade da população (50,5%) estudada. A partir dos 65 anos, a mesma condição é observada em 59,7% dos brasileiros. Diferentemente dos dados apontados pela diretriz da SBC e da Sobrac, o Vigitel indica que a maior frequência de diagnóstico em mulheres ocorre em todas as faixas etárias.

Fonte: Agência Fapesp.
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